Há uns tempos lia um livro que descrevia algumas casas e todo o pensamento inerente às mesmas.
Escolhi
a casa existencialista por ser aquela com a qual mais me identifico
e sobre a qual vou debatendo todos os dias sem sequer me aperceber.
A
respeito desta casa, ilustrada por uma cabana na Floresta Negra,
em Todtnauberg, Heidegger, o seu proprietário, terá desenvolvido muito do que compõe o seu pensamento
arquitecto-filosófico. No inicio do capitulo é transcrita a explicação de
Heidegger para o facto de preferir viver na "província", argumentando
fortemente contra a vida inautêntica e desenraizada nas cidades.
Enquanto
no século XIX e XX assistimos a um forte êxodo rural, em que a população fugia
dos meios rurais para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida
e empregabilidade, no século XXI assistimos precisamente ao inverso, o êxodo
urbano, isto é, a população tende a sair das cidades rumo às zonas rurais, onde
encontram um escape e a tranquilidade para as suas stressantes rotinas.
Eu
própria senti esta mudança num curto espaço de tempo e sobre a qual ainda reflicto. Saí de um meio rural rumo a uma grande cidade por forma a ter acesso a
um curso superior. A minha adaptação a uma nova rotina foi fácil, mas tenho conhecimento de
casos em que essa adaptação não foi tão simples: pela agitação, pela
dificuldade em fazer novas amizades, pelo tempo que se perde em deslocações, só
pelo simples facto de não se encontrarem na sua zona de conforto, era um grande
entrave para que uma boa experiência, aquela de sair de casa dos pais e
finalmente ser-se visto como um adulto responsável, se tornasse numa má
experiência.
Com o
curso terminado, voltei à terra natal e adaptação não foi fácil. O vazio que
sentia, a agitação que faltava, as amizades que ficaram para trás, ... Voltei à
calma, à tranquilidade, a uma rotina sem grandes preocupações, no entanto,
houve uma parte de mim que ficou na grande cidade.
Tendo
voltado à minha casa, comecei a repensar o espaço que me acolhe todos os dias,
supostamente o meu porto de abrigo, a sua envolvência, as pessoas com quem me
cruzo todos os dias e cujo nome sei.
Chego
à conclusão que as pessoas no geral não sabem habitar as suas "quatro
paredes", talvez por não perceberem o espaço e aquilo que podem fazer com
ele ou simplesmente por falta de tempo.
E na
verdade, a nossa casa é o reflexo da nossa personalidade, dos nossos gostos,
das nossas vivências e memórias: é nosso e tem o nosso cunho pessoal.
No
entanto, com o aparecimento de grandes superfícies como é o caso do Ikea,
acessível a todos os bolsos, e com uma oferta bastante diversificada, não
estaremos a ser todos iguais e a perder essa identidade e autenticidade? Mesmo
articulando o mobiliário de forma diferente, quem não tem a casa com objectos
do Ikea iguais aos do vizinho? É portanto a facilidade temporal e económica que
nos faz recorrer a este tipo de situações sem pensar duas vezes: é simples e dá
poucas dores de cabeça.
O que acham?
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